[Resenha] O Adulto / Gillian Flynn

Publicado originalmente em “Rogues” (2014, Editora Bantam, 816 p.), o conto “O Adulto” demonstra porque George R. R. Martin – autor de “As Crônicas de Gelo e Fogo” e organizador dessa  antologia – convidou a escritora Gillian Flynn a figurar entre nomes importantes como Neil Gaiman, Patrick Rothfuss, nessa grande homenagem ao terror e ao suspense. Confira a resenha da edição solo lançada no país pela Editora  Intrínseca. 

O Adulto / Gillian Flynn

Gillian Flynn se tornou merecidamente best-seller e mundialmente conhecida com seu thriller psicológico Garota Exemplar (Gone Girl, 2013, Intrínseca, 448p.) – leia a resenha aqui. De posse de uma escrita perspicaz sobre a sociedade americana e as consequências da decadência econômica no âmbito familiar, a autora empresta ao conto “O Adulto” sua visão a casa amaldiçoada, uma das histórias mais tradicionais de terror.

Curiosamente, em nenhum momento é revelado o nome da protagonista, que narra em primeira pessoa as 64 páginas do conto. O interessante é esse fato peculiar criar certa empatia e intimidade do leitor com a jovem escroque.

Vinda de uma infância desestruturada, a jovem se especializou desde cedo em pequenas fraudes e descobriu um dom para “ler” e manipular as pessoas, o que lhe rendeu uma promoção a vidente em uma loja bem suspeita, em que os negócios escusos no fundo são o que acontece de mais interessante. Esse talento não tem nada de sobrenatural, lembrando os enredos de séries de tv “Psych” (2006-2014, USA Network) e “The Mentalist” (2008–2015, CBS), em que seus personagens usam de lábia e muito treino de observação para se passarem por clarividentes.

Quando Susan Burkes a contrata para limpar a casa de espíritos que alega estarem possuindo seu enteado, a protagonista planeja utilizar o desespero da cliente para arquitetar um grande engodo que fará seu pé de meia. Nossa protagonista acaba duvidando de seu próprio ceticismo ao se deparar com as características marcantes dos enredos de terror que tanto adora ler: mansão com histórico de tragédia, as paredes chorando sangue, o adolescente sociopata e o gato que poderia ter vindo direto do Cemitério Maldito (Stephen King, 1983, Pet Sematary, Editora: Planeta do Brasil, 243p.).

A autora, além de fazer referências veladas a vários ícones do terror durante a trama, faz menções pontuais a livros clássicos desse gênero. Obviamente, a curiosidade do leitor fica aguçada para não perder esses títulos, assim como o passageiro do ônibus que estica o pescoço para descobrir qual o livro que o ocupante do banco vizinho está entretido.

Durante toda a leitura, a personalidade mordaz da protagonista não nomeada me lembrou de Libby Day, outra personagem de destaque criada pela autora no livro Lugares Escuros (Dark Places, Gillian Flynn, 2015, Intrínseca, 352p.). Provavelmente, isso se deve ao reflexo de ambas virem de famílias totalmente desestruturadas. No fundo, por meio de seus golpes sem grandes prejuízos, demostram que só quererem pertencer a algo. Contudo, essa busca por pertencimento pode enveredar para uma intrincada encruzilhada psicológica. 

Gostam de contos de terror? Qual tema clássico de terror mais gostam? Eu, não é segredo, adoro vampiros. Comente o seu favorito.
Gostaram do gato frajolinha? Ele é o Ogrinho. Muito amoroso, apesar de o nome parecer saído de um enredo de terror...rs...

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